Desde o fechamento do MegaUpload e da prisão cinematográfica, meses se passaram, e o empresário transformou-se, para muitos, num herói de nossos tempos. O que justifica esse fenômeno?
Desde o fechamento do MegaUpload e da prisão cinematográfica, meses se passaram, e o empresário transformou-se, para muitos, num herói de nossos tempos. O que justifica esse fenômeno?
Kim Schmitz, que legalmente mudou seu nome para Kim Dotcom por volta de 2005, é uma das personalidades mais conhecidas do universo digital. Recentemente envolvido em um processo contra o governo dos Estados Unidos, que pede sua extradição ao seu par neozelandês, e tendo seu principal site, o Megaupload, fechado, o homem está no centro das atenções de todos aqueles antenados com as novidades da internet. Daqueles que gostam de compartilhar arquivos e daqueles que odeiam ter seus arquivos compartilhados sem autorização, é claro. Mas por que Kim é tão amado - e odiado - por tantos?
Kim registra um passado ao mesmo tempo glorioso e sombrio. Preso diversas vezes por envolvimento com atividades ilegais, como hackear sites governamentais e de empresas, este descendente de alemães e finlandeses sempre envolveu-se em empreendimentos arriscados e nebulosos. Certa vez, comprou ações de uma empresa à beira da falência e prometeu investir milhões de euros nela, só para esperar a valorização dos ativos para vendê-los alguns dias depois, agora com 300% de sobrevalor (a prática, conhecida como "inside trading", é completamente proscrita no mercado de capitais).
Sua competência para fazer dinheiro é admirada de tempos, e sua audácia sempre despertou a atenção de empreendedores e também dos agentes do FBI. Por outro lado, quase 100% de suas atividades como homem de negócio são questionáveis do ponto de vista ético e beiram a fronteira cinzenta que separa o lícito do ilícito
Sua astúcia para identificar oportunidades, combinada com seu conhecimento em computação, sempre gerou dividendos. O maior deles foi o Megaupload, que permitia aos usuários compartilhar arquivos gratuitamente. O serviço chegou a reunir 50 milhões de usuários ativos diariamente e rendeu uma fortuna de US$ 175 milhões a Kim. Graças a seu site, milhões de pessoas puderam baixar arquivos sem custo, encontrar dados difíceis de achar; o MegaUpload também facilitou a vida também dos sites de download e das pessoas que adotaram o conceito da computação em nuvem.
As coisas começaram a azedar exatamente por conta do sucesso do empreendimento e de seu tamanho. Por não possuir uma vigilância muito presente (afinal, gerenciar 50 milhões de acessos por dia é um trabalho hercúleo), não eram poucos destes arquivos compartilhados que infringiam leis de propriedade intelectual, como séries, livros, filmes e músicas, distribuídos sem autorização de seus titulares legítimos, diga-se. Podemos dizer, então, que Kim "popularizou" a cultura do download gratuito, para o bem e para o mal. Isso não significa, todavia, que todo o conteúdo disponível no Megaupload referia-se à pirataria e também não valida dizer que o serviço, por si, era ilícito.
Outro motivo para o povão simpatizar com Kim foi a forma como ele foi capturado. Inadvertidamente, dezenas de policiais à paisana, armados até os dentes e utilizando diversos veículos e até um helicóptero invadiram sua mansão, quebraram portas e janelas, aterrorizaram sua mulher e filhos e o agrediram, argumentando que se tratava de uma operação desencadeada por conta da constante "infração de direitos autorais" promovida pelo rapaz.
Muitas pessoas que simpatizam com causas de "internet livre" e acesso ilimitado podem ter se imaginado no lugar de Kim. Poderiam ser eles ali. Aqueles que já baixaram qualquer episódio de algum seriado ou um livro em versão digital também infringiram direitos autorais. Também poderiam encarar um policial arrebentando a sua porta e apontando uma arma calibre 12 contra a sua família.
Kim tem mais um trunfo a seu lado, que cativa uma parcela significativa do público: ele está em pé de guerra com o governo dos EUA e com a MPAA, poderosa organização que defende os direitos autorais de grandes publishers do entretenimento. Essa disparidade de poder de fogo também faz a balança pender para o lado de Kim, já que frequentemente ele, sabiamente, coloca-se na condição de "bode expiatório" e sustenta que está sofrendo uma perseguição lunática e injusta por gente muito poderosa.
Enfim, Dotcom cativa porque une, habilmente, alguns atributos que muitos de nós gostaríamos de ter ou que admiramos: audácia, irreverência, dinheiro, sucesso profissional e fama. Além de fazer o que gosta e sem remorsos. Seu sucesso foi tão alto a ponto de cutucar e incomodar a alta cúpula de Washington.
Há muitas razões para se admirar Kim Dotcom e outras para odiá-lo. Mas o fato inevitável é que ele criou um modo das pessoas compartilharem qualquer coisa online, disseminou uma cultura de serviços para armazenar e distribuir áudio, vídeo, programas, documentos e até arquivos pornográficos, um modelo que não se apagará das mentes das pessoas com facilidade e que perdurará por longos anos - para o desespero de uns e a alegria de outros.
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