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O Clone de Mega Drive feito pela Dynacom


A Dynacom tem história. Ela é, simplesmente, a empresa de games nacional que aguentou mais tempo no mercado. Do distante ano de 1983 até o começo de 2011, as lojas brasileiras sempre estiveram abastecidas com algum modelo de Dynavision.


Fundada em 1981, ela foi mais um dos muitos empreendimentos que se aproveitaram dos benefícios da Reserva de Mercado. Mas o que seria isso? Basicamente era uma lei do governo que proibia a importação de qualquer tipo de produto eletrônico, desde o mais simples relógio digital até os poderosos computadores. A única forma para que eles pudessem entrar no território nacional era através de uma parceria com uma indústria brasileira.

No papel, a ideia parecia ser boa. Mas, na prática, o que acontecia era o seguinte: todos os componentes eram importados para ser montados em alguma fabriqueta em Manaus. Logo em seguida, a empresa nacional colocava a sua marca no produto (que, em 99% das vezes, não era dela) e cobrava quatro vezes mais que o preço dele no mercado internacional. E o consumidor só tinha essa opção, pois não podia importar (trazer um computador de fora era tão crime quanto importar uma arma de fogo pelas leis da época).

Dynavision

O primeiro videogame lançado pela Dynacom foi o Dynavision, lançado em 1983. Ele foi o pioneiro dentre todos os clones de Atari 2600. Antes mesmo de que a Polivox (Gradiente) conseguisse entrar com seus consoles licenciados no país, as lojas brasileiras já estavam inundadas de versões alternativas. Além do próprio Dynavision, concorriam pelo mercado nacional o Dactar (Milmar) e o Supergame VG-3000 (CCE).

Um trabalho de engenharia reversa, de fazer inveja aos chineses, era feito por aqui: a Dynacom pegava cada cartucho de Atari com algum potencial de venda e trocava a marca original (Activision, Parker Brothers, Coleco, etc.) pela dela (Dynacom). Foram os pioneiros do ROM Hacking, mais de 20 anos antes de essa mania ganhar a internet.


O seu console, no entanto, era de qualidade. Para vocês terem uma ideia, o Dynavision tinha um processador melhor e mais memória RAM que o Atari original. Eles tinham até uma ideia de expandir o console e transformá-lo em um rudimentar computador caseiro através de um teclado e de um cartucho especial. Sem contar a tecnologia, que eles mesmos desenvolveram, que possibilitava a troca silenciosa de cartuchos. Afinal, naqueles dias, as TVs não vinham com essa funcionalidade. E, por conta disso, cada vez que um console era desligado, ouvia-se aquele barulho ensurdecedor de estática até que um novo jogo fosse colocado.

Outras melhorias foram o design ergonômico do controle e as entradas frontais (quem é das antigas deve se lembrar de que os joysticks eram conectados na parte traseira do Atari oficial).



Em 1989, o Dynavision ganharia sua segunda versão: o Dynavision 2. Ao contrário da primeira, ela era baseada na arquitetura do NES. Assim como acontecera em 1983, foi a Dynacom que iniciou a 3ª geração (8 bits) no Brasil. Alguns meses depois, chegaria a concorrência com seus Hi-Top Game (Milmar), Top Game (CCE) e o  Phantom System (Gradiente). Sem considerar, logicamente, a Tec Toy e o seu contrato de distribuição oficial de produtos SEGA.

O produto ficou no mercado por algum tempo até dar lugar a uma versão melhorada, o Dynavision 3. Esse console era o clone definitivo de NES. Possuía entradas tanto para cartuchos americanos quanto para japoneses, tinha um hardware bastante sólido, que dificilmente dava problemas e é considerado pelos entusiastas, até hoje, como a melhor das versões alternativas do console da Nintendo em termos de qualidade gráfica e sonora.

O Dynavision 3 foi sucesso de vendas e liderou, por muito tempo, as vendas de sua categoria. Porém, a Dynacom sabia que os consoles de 8 bits já estavam com os dias contados lá por 1993, 1994. Era necessário buscar uma nova alternativa.

A criação do Megavision

Em 1994, a Dynacom contratou uma empresa especializada em engenharia reversa para construir um clone do console de maior sucesso no país naquele momento: nada mais, nada menos que o nosso Mega Drive.
A intenção era das melhores: criar um clone de tão boa qualidade quanto os de Atari e NES que o precederam. E a coisa não parava por aí: o novo console teria a capacidade de rodar não somente a biblioteca de 16 bits como, também, os clássicos do Master System.



O Megavision apareceu, pela primeira vez, em um anúncio na revista SuperGamePower nº 1, de abril de 1994. Ele foi anunciado como o “Mega Master da Dynacom”.
Alguns meses depois, o novo console seria apresentado, para a degustação do país todo, na feira de Utilidades Domésticas de 1994, realizada no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo. E foi aí que os problemas começaram.

Logo no primeiro dia, a Dynacom foi surpreendida por uma batida policial no seu estande. Todos os Megavisions que estavam à disposição foram apreendidos e seus representantes, levados para dar explicações na delegacia. O motivo? A Tec Toy havia conseguido uma liminar judicial proibindo a exposição e a comercialização do novo console, pois ela era a única detentora dos direitos sobre os produtos SEGA no Brasil.



A Dynacom recorreu e, no dia seguinte, conseguiu, finalmente, colocar seu Megavision na feira. Mas a batalha judicial com a Tec Toy continuaria. O principal problema estava na exibição da frase “Produced by or under license of Sega Enterprises, Inc” cada vez que um novo cartucho era inserido no seu clone. Como o clone não era licenciado, isso infringia tanto a legislação de Direitos Autorais quanto o Código de Defesa do Consumidor.

Nada disso, porém, impediu o produto de chegar às lojas. No entanto, ele não durou muito tempo nos estandes de venda. A Tec Toy não dava sinais de que ia desistir da ação e, depois de consultar seus advogados, a Dynacom percebeu que as chances de vitória eram pequenas. Por conta disso, eles mesmos decidiram retirar o produto do mercado, o que era justo por um lado (a Tec Toy era quem pagava os royalties e investia nos produtos aqui no Brasil), mas uma pena por outro (o Megavision era MUITO MELHOR que o Mega Drive III).


Por dentro do console

Sim, meus amiguinhos. Se, hoje em dia, a gente tende a pensar nos clones como consoles de baixa qualidade que sequer dão suporte a todos os jogos, o cenário era bem diferente no Brasil dos anos 90. O Megavision só não era melhor que o primeiro Mega Drive, pois ele batia, com força, em todas as versões que foram lançadas depois dele.


TPC Super Fighter

Em primeiro lugar, ele vinha com dois controles de 6 botões TPC Super Fighter, da Dynacom.  Além de ser um acessório preciso, durável e de boa qualidade, contava com funções que o oficial não tinha: turbo e slow motion.

O encaixe para cartuchos do Megavision é mais largo que o do Mega Drive comum. Por conta disso, ele dá suporte tanto para jogos japoneses quanto para os americanos. E o console vinha com uma chave seletora na traseira, que possibilitava até mesmo jogar Bare Knuckle em uma “fita” nacional de Streets of Rage: era, praticamente, um Megakey embutido!


Adaptador Mega Master

E a coisa não para por aí: o adaptador Mega Master da Dynacom acompanhava o console. O que ele fazia? Permitia que todos os jogos do console de 8 bits rodassem no console. Um verdadeiro tapa na cara da Tec Toy, que, além de cobrar caro por seu adaptador para jogos de Master System, não havia lançado uma versão compatível com o Mega Drive III.

E, sim, o brinquedinho da Dynacom funcionava nele (eu mesmo testei no Mega Drive III do meu primo, na época). O único problema desse adaptador era o botão PAUSE. Como ele está no corpo do acessório, as chances de você esbarrar com força nele e acabar travando o jogo eram consideráveis.
Se tudo isso não era o bastante, o Megavision também vinha com um fone de ouvido (ele tinha essa entrada, que havia sido retirada do Mega Drive III) e suporte para Sega CD (ou o Mega CD japonês).


O Megavision tem até entrada pra Sega CD!

O hardware, por ser baseado no do Mega Drive I, fazia com que o Megavision rodasse todos os jogos de maneira perfeita. Em termos gráficos e sonoros, ele enfrenta, de igual para igual, todas as versões clássicas do console. E vence de goleada o III.

Ou seja, a Dynacom não brincava em serviço. Eu tive a oportunidade de jogar essa pérola, que meu irmão ganhou de aniversário, novo e lacrado, vindo de uma Casas Bahia da vida, em 1996. O console vale a pena em todos os sentidos.


Por sinal, isso faz com que eu tenha de discordar de duas informações que vi, com frequência, na internet. A primeira diz que ele acompanhava um cartucho, ainda não dumpado, chamado BomBoy. A versão que eu tive contato, pelo menos, não vinha com nenhum jogo.

Outra fala que a Tec Toy teve sucesso em eliminar o Megavision do mercado ainda em 1994 e que apenas 5 mil cópias do console foram vendidas. Como o aparelho que eu joguei foi adquirido 2 anos depois, isso também não me parece muito acurado.

No entanto, para todos os efeitos, o Megavision teve uma divulgação bem limitada por parte da Dynacom e já não era mais comercializado em 1998, segundo o site da própria empresa recuperado por meio do WayBack Machine.

Hoje em dia, é considerado um produto raro e não sai por menos de R$ 300 no Mercado Livre nas poucas vezes que ele dá as caras por lá. Por conta disso, só vale a pena mesmo para colecionadores. Quem quiser um Mega Drive para se divertir pode adquirir uma versão clássica do console por 1/3 desse valor.


A placa do Megavision não deixa nada a dever para o Mega Drive oficial

O Legado

A Dynacom continuou sua jornada depois disso. Várias versões novas do Dynavision compatível com o NES seriam lançadas. E todas eram bastante divulgadas, com direito ao mico de ouvir, em rede nacional, que o console era “quase um Playstation 2”.
Outros produtos, como o PC Game, um computador baseado na arquitetura do console de 8 bits da Nintendo, também chegaram às lojas. E esse foi o pior deles, pois sua propaganda tentava vendê-lo como se fosse uma máquina real e não um brinquedo ultrapassado e cheio de limitações (nele, por exemplo, você perde seus arquivos todas as vezes que as pilhas (!!) acabam – é sério).
Mais recentemente, a empresa investiu no nascente mercado de consoles-emuladores. O Cybervision e o fantástico portátil Dingoo (sou o feliz proprietário de um deles, feito pela Dynacom) são exemplos disso. No entanto, eles não foram suficientes para salvar a Dynacom do buraco. Em fevereiro de 2011, o contrato de fabricação que eles mantinham com a Cedar Eletrônica foi rompido. E, desde então, não há mais notícias da empresa, pois até mesmo seu site saiu do ar.

Artigos Relacionados

O lançamento do Mega Drive no Brasil
http://www.comunidademegadrive.com.br/o-lancamento-do-mega-drive-no-brasil/

Referências

SaturnOzMegavision – O Clone de 16 bits da Dynacom
http://saturnoz.blogspot.com/2009/02/megavision-o-clone-de-16bits-da-dynacom.html
SegaRetroDynacom Megavision (em inglês)
http://segaretro.org/Dynacom_Megavision

Fonte: Comunidade Mega Drive

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