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O cubo mágico do Ouya é a porta de entrada para um universo alternativo.


“Obrigado por acreditar”, era o que dizia o enorme cartão de agradecimento dentro da caixa do Ouya. A plaquinha vermelha de plástico foi a primeira coisa que vi quando abri a embalagem do console. Foi também a primeira amostra da filosofia por trás da pequena plataforma independente baseada no sistema Android, e que cuidadosamente aproveitei nos últimos dias.

Fiquei bastante surpreso como o Ouya pode ser útil se você realmente se interessar por jogos independentes e emuladores. Mexer na plataforma é rápido e fácil, apesar dos problemas com o controle. Mas antes entrar nos detalhes do console, eu gostaria de lembrar que foi um verdadeiro drama receber meu Ouya em casa.

A história começou quando eu apoiei o projeto no Kickstarter em julho de 2012. Na época, a campanha bateu a marca de US$ 5 milhões arrecadados em apenas 10 dias, um recorde considerável na história do site de financiamento coletivo, e finalmente estacionou em mais de US$ 8 milhões. Escolhi um pacote básico com um controle adicional, já que sempre é bom dividir essas experiências com outros camaradas.

A previsão era de que as primeiras unidades do Ouya seriam enviadas aos desenvolvedores no fim do ano passado. Segundo alguns relatos em fóruns, o dev kit ainda era muito precário: o controle dava muito problema de sincronização e também sofria de outros defeitos de funcionalidade, enquanto que o console em si às vezes só funcionava se colocado de lado, como eu fazia com o velho PlayStation 2 destravado da minha adolescência.

Julie Uhrman, a CEO do Ouya, prometeu que esses problemas seriam resolvidos na versão final que estaria nas prateleiras quando o console fosse lançado oficialmente em 25 de julho de 2013. Teoricamente, os consoles endereçados aos apoiadores do Kickstarter receberiam logo antes do Ouya finalmente chegar às lojas. Eles só não conseguiram prever o caos que seria fazer todas as entregas internacionais. Infelizmente, esse era o meu caso e o de grande parte dos apoiadores da campanha.

Depois de três ou quatro meses de trocas de email, enrolação (por parte deles), preguiça (por minha parte) e ligações para as centrais dos correios na região, fui resgatar o pacote no fim de agosto [inclusive, não deixe de ouvir o nosso unboxing em áudio do console]. Que começassem, então, os tempos de Ouya.

Cubo mágico

O Ouya vem em uma embalagem completamente diferente de qualquer outro dvideogame que eu já vi. É uma caixa preta fosca de papelão, do tamanho de uma de sapato. Você abre, tem o cartão de agradecimento, e logo ali está o pequeno bloquinho cinza e seu controle. Embaixo deles, o manual, a fonte e o cabo de HDMI.

O console em si é do tamanho de um punho (contando que você não tenha pequenas mãos de macaquinhos). Ele é bem leve e preenche toda uma mão. As conexões externas estão concentradas em uma pequena faixa de plástico na parte de trás do console. Tudo bem básico: entradas de HDMI, USB, cartão SD, ethernet e a da fonte elétrica. Quando tudo estiver ligado, você aperta o discreto botão logo no topo do cubo arredondado. O botão vai ligar como um micro-holofote projetando o símbolo em U do Ouya. E ele fica uma graça ligado na estante! Seria uma injustiça não dividir isso com vocês.

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O visual é tão minimalista quanto o resto de todo o seu conceito, com um acabamento que imita aço escovado. Apesar do tamanho, ele não passa a impressão de ser frágil, principalmente por conta do seu material e design – o exato oposto do controle.

O mais miserável problema do Ouya é o seu controle. Não é uma questão de conceito de design, mas de execução. Ele é certamente anatômico, lembrando bastante o conforto do controle do Xbox 360, mas a forma como posicionaram a bateria não faz muito sentido. Ele usa duas pilhas AA, uma de cada lado. Para ter acesso a elas, você tem que tirar as duas partes de cima do controle. Por conta do encaixe frouxo dessas peças, os quatro botões principais O, U, Y e A frequentemente afundam e ficam presos dentro dessas partes.

Além disso, o controle sofre de um lag irritante quanto você está a mais de dois metros de distância do console. Jogar TowerFall (ou qualquer outro jogo de ação, na verdade) sentado no sofá da sala era um teste de paciência. Cada comando demora quase um segundo para ter feedback na tela, o que mata qualquer game que precise de movimentos e decisões rápidas. Pra completar, o touchpad bem no centro do controle só atrapalha e não funciona com muita precisão.

Se não fosse possível sincronizar controles do Xbox 360 e do PlayStation 3 (o que também não é uma solução perfeita), talvez o Ouya nunca tivesse saído da fábrica. É um erro tão grotesco de produção que esse maldito controle poderia ser a morte de todo o projeto. Realmente espero que eles consertem isso nas próximas versões.

Play, Discover, Make, Manage

Durante toda a experiência que passei na última semana com o consolinho, sempre me batia na cabeça a ideia de simplicidade em tudo o que estava ali. Mas a parte que mais consegue canalizar esse conceito é o sistema operacional.

Desconfio que esse minimalismo da interface se deve principalmente pelo Ouya ser baseado em Android, mas isso não tira o mérito do design do OS. A tela principal mostra o game que você jogou mais recentemente no topo, ao lado de sugestões da loja de apps. Embaixo, mais quatro opções: Play, Discover, Make, Manage. Por enquanto, não há a opção de português nos idiomas do console.

Home screen da versão de desenvolvedor
Home screen da versão de desenvolvedor

‘Play’ é onde você encontra sua biblioteca de jogos, agrupados em duas fileiras contínuas de ícones de cada um deles. É só escolher um e em segundos você já pode jogar. Não é só uma questão de design. Tudo é feito para ser usado rapidamente. O tempo que você demora entre ligar o console e começar a jogar é de menos de 10 segundos.

A loja do Ouya fica na seção ‘Discover’, onde você vai encontrar jogos de todos os tipos. A disposição das imagens de capa dos games me lembrou do Netflix, já que está tudo dividido em categorias muito específicas. Lá tem desde TowerFall, Sine Mora Final Fantasy III, até projetos experimentais que usam diferentes conceitos de jogabilidade (vou falar de todos eles mais pra frente também).

Eles também simplificaram o processo de compras dos apps. Todos os games podem ser baixados de graça – é só apertar o botão download e esperar baixar. No entanto, alguns aplicativos são pagos, mas você só faz a compra dentro do jogo. Isso faz com que você acaba baixando um monte de coisa que nunca nem se preocuparia em experimentar se não fosse completamente de graça e acessível, e acidentalmente acaba conhecendo algumas coisas bacanas.

No entanto, quando escolheram não fazer distinção entre demo e jogo completo (o que pode ser bom para quem está acostumado com o ambiente mobile), a equipe do Ouya acaba confundindo quem está acostumado com lojas online mais tradicionais, como a PSN ou a XBLA. Especialmente porque ele nem mesmo menciona de antemão se aquilo que você está baixando é gratuito ou não. O único jeito de descobrir é procurando pela opção de “versão completa” ou “compre” no menu dentro do game.

Voltando à home do sistema, as outras duas opções são ‘Make’ (ala de desenvolvimento do console, onde você pode testar suas builds) e ‘Manage’, que corresponde à parte de configurações.
Quatro opções, quatro seções bem diferentes, mas nada mais que o necessário para a home screen de um console como esse. Simples e eficiente – apesar das confusões.

Dos clássicos aos alternativos

Eu não esperava encontrar um catálogo de jogos tão cheio. Não estou falando de obras de arte ou mesmo de exclusivos; apenas de quantidade. É curioso ver que apenas aparecer nessa plataforma é uma ótima oportunidade para muitos desenvolvedores independentes.

Final Fantasy III
Final Fantasy III

O resultado é que você acaba tendo um cardápio variado que vai desde jogos queridos pela crítica e público, até experiências não muito convencionais, como Just Rain, Amazing Frog, Fist of Awesome, Addiction, Don’t Eat Soap e Get On Top. Inclusive, sair desbravando a lista de jogos do Ouya, se perdendo pelos aplicativos independentes, experimentais, excêntricos ou simplesmente desconhecidos, é um passatempo por si só. Por isso, foram justamente esses games que mais me chamaram a atenção até agora.
Get On Top, por exemplo, é a perfeita adaptação de guerra de dedão para os games. Talvez isso nunca precisasse de uma adaptação, mas esse não é o ponto. No jogo, você e um oponente tentam um derrubar ao outro. O primeiro que bater a cabeça no chão morre. Bennet Foddy, o criador do game, também desenvolveu QWOP. O design de Get On Top é ainda mais enxuto. Se quiser, você pode jogar uma versão web aqui.

Addiction é outro jogo que eu curti bastante nesses dias. A ideia é um tanto complexa e dramática: experimente a sensação de ser viciado em drogas; mas a execução não poderia ser mais simples. Você controla os movimentos de um quadradinho de 10×10 cm e deve evitar que ele seja engolido por um buraco negro do outro lado da tela. O problema é que você pode fazer pontos se chegar mais perto do buraco. Quanto mais perto, mais pontos. Se você não tomar cuidado e encostar no buraco, já era. Uma ótima maneira de descrever qualquer tipo de atração irresistível e destrutível de um vício.

Games como esses são as verdadeiras joias da coroa do Ouya. Eu definitivamente gastei muito mais tempo rindo com os amigos curtindo os projetos mais experimentais do catálogo do que qualquer outro jogo tradicional e estabelecido. Rolaram pequenos campeonatos instantâneos de Get On Top, fiquei horas contemplando a dureza de Addiction, a vista ficou turva depois de muito tempo na frente de Acid Trip e eu juro que ainda estou aprendendo a jogar Amazing Frog, mas é muita treta.

Fist of Awesome
Fist of Awesome

Definitivamente o Ouya não era o console que eu pensei que se tornaria. Imaginei que veria mais games independentes já consagrados, como Braid, Super Meat Boy e outras pérolas que rondam o catálogo do Steam há anos, mas a adesão dessa galera não foi tão grande quanto eu esperava. Compreendo que a base instalada de Ouyas deveria ser muito maior do que ela é hoje – eles ainda não bateram a marca de 100 mil unidades – para valer a pena para os desenvolvedores adaptarem seus games para o console. Mesmo assim, ainda acredito que a loja do Ouya tem potencial para se tornar um porto seguro dessa geração de indies, não só dos experimentais, mas também dos comerciais.

É muito importante ter na cabeça que o Ouya é um console alternativo, acima de qualquer coisa. Se você for atrás dele porque quer jogar grandes nomes do independente, muito provavelmente irá se decepcionar (mais ainda se achar que é uma plataforma pra concorrer com PS3 ou Xbox – são classes completamente distintas de console). Mas se o que você está procurando é uma experiência diferente de qualquer outra que esteja agora no mercado, com certeza irá se divertir que nem criança.

Vejo gente arrotando com frequência que game é arte, mas sempre deixa de lado a cena experimental e seus joguinhos malucos e não convencionais. Com alguns ajustes e ponderações na sua próxima geração, o Ouya pode se tornar exatamente a porta de entrada para um mundo completamente novo e alternativo que tanto precisamos em um cenário acostumado com gêneros e conceitos pré-definidos.

Se quiser, pode comprar um Ouya agora mesmo na loja virtual do console.


Eu Vi Aqui:   Original por  

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1 Comentário

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